Qual a razão de comprarem relógios?

Quando ainda não havia telemóveis usava relógio para ver as horas, raramente o tirava e era sempre o mesmo, com a massificação dos telemóveis passei a comprar relogios de quartz como mero adereço, tinha muitos, usava-os consoante a roupa e estado de espirito, desde agosto de 2021, quando comprei um automático em segunda mão (que se adiantava 6 minutos por hora) decidi aprender a mexer na coisa e os relógios passaram a ser um passatempo, (sim, ainda não faz 1 ano que mexi no primeiro automático!!!) Gosto particularmente daqueles a quem dou vida, mesmo que lhes faltem pedaços de caixa ou mostrador. Resumindo, só uso/usei relógios com 3 finalidades : ver as horas, para combinar com a indumentária e agora como passatempo. Vamos lá a ver o que o futuro me reserva (provavelmente vou acabar a desenhar e fazer movimentos em impressoras 3D)

Pelo que comecei a ler por aqui, há gente que os coleciona, ou compra como investimento, ou compra para apreciar a beleza ou para reparar e revender. Haverá outras razões que desconheço para comprar e mostrar os relógios que se compram?

Hummm..estou em viagem, fechado numa carruagem, deu-me para a reflexão.

Em tempos estive a conversa com um familiar de um amigo que tem centenas de relógios e continua a comprar, perguntei-lhe o porquê de comprar tantos relógios que inevitavelmente acaba por não usar, fiquei á espera de uma resposta filosófica mas para meu espanto ele respondeu "compro porque posso".
E no fundo é isso nu e cru, porque independentemente das razões que leva cada um de nós a comprar, realmente compramos porque podemos.

@Duca749, isso sem dúvida alguma, mas em vez de relógios podiam coleccionar pistolas. O que leva a comprar relógios é mais de explicação freudiana que financeira.

VS escreveu:@Duca749, isso sem dúvida alguma, mas em vez de relógios podiam coleccionar pistolas. O que leva a comprar relógios é mais de explicação freudiana que financeira.

O que leva as pessoas a comprarem canetas, botões de punho, facas... é o gosto pessoal por esses artigos nada mais.

@Duca749, não é tão simples quanto isso. Se eu investisse em relógios, comprava Patek Philippe apesar de não gostar nada dos gajos, gosto mais dos seikos da década de 70, mas o gosto pode não ser o motivo de compra, Uma coisa é a paixão outra a razão, quem faz uma colecção estruturada ou investimento não se move somente pelo gosto.

No fim de contas é, porque independentemente da razão que te leva a comprar relógios compras porque gostas, senão compravas outras coisas pelas mesmas razões.

Para mim presentemente é um entretimento , compro peças que sei que consigo arranjar dentro das minhas capacidades , adoro todo o processo de limpeza , polímento , montagem , colocar as peças novas , deixar o relógio impecável e compro sempre para mim mas não resisto a colocar à venda e geralmente mais cedo ou mais tarde vai embora e repito , nem sempre ganho grande coisa mas é uma forma de manter o hobby sempre com projectos novos , sempre é melhor do que outros hobbies que tive e que só gastava dinheiro

@rp1972, eu ainda não os vendo, mas estou contigo : isto como hobby é uma maravilha, um gajo diverte-se e ainda por cima pode ganhar algum se assim o pretender.

VS escreveu:@rp1972, eu ainda não os vendo, mas estou contigo : isto como hobby é uma maravilha, um gajo diverte-se e ainda por cima pode ganhar algum se assim o pretender.

Para mim , só começou a ter sentido quando comecei a meter a mão na massa , tenho dois ou três relógios que nunca venderia , o resto vai tudo pelo preço certo , porque senão o material começa a amontoar-se e o hobby passa a ser investimento , agora nunca compro um relógio que eu não goste só para o vender , se vender muito bem , senão fico com ele

Pelo que já percebi, se houverem 100 pessoas neste fórum, existem 100 razões diferentes para comprar relógios e 100 lógicas diferentes de os "ajuntar"!

Eu adoro, sou viciado, compro os que posso, dão-me imenso prazer em manusear, ter guardados e tirar das caixas e dar corda, estudar o que posso sobre eles, manter os meus registos, manter os relógios organizados em grupos, reorganizar esses grupos, e, claro, usar! Mas, o prazer que me dá usar um relógio que acabei de comprar é indescritível, o prazer de usar um relógio meu pela segunda vez já não é a mesma coisa! E tanto maior é o prazer de acordo com o relógio que posso comprar! 

Numa palava, compro relógios porque sou viciado neles, como nunca fui em nada (e já tive muitas pancadas, motos, golfe, charutos, vinhos, fotografia, máquinas fotográficas, pesca, jogos de tabuleiro, etc)! E detesto colocar relógios à venda! 

É este o meu testemunho sobre o vício! 

Bom texto, @JPP.

Boa pergunta VS.. vou dar numa de artista e tentar responder (nota, escrevi isto em 2014, mas os motivos pelo qual os relógios me fascinam continuam).

"Refleti no fundo de uma chávena de bica como se desenrola o tempo, aquele que gere as subtilezas do nosso ritmo, da vida, dos gestos rotineiros que ditam o quotidiano. Naqueles 10 minutos, tempo necessário para respirar fundo e afastar o ritmo acelerado do stress - para mais tarde acelera-lo com cafeína - vi como esse bem tão precioso e tão mal aproveitado consegue ditar com punho de ferro os meus pensamentos. Fernando Alves dizia há tempos que "perder tempo não é o mesmo que desperdiçá-lo”, referindo-se aos minutos que perde ao navegar sem destino na internet, nas histórias dos jornais até encontrar uma gema escondida entre páginas e lugares-comuns.


Infelizmente, o tempo perdido em busca de algo que nos cative, da beleza de um livro ou do final amargo daquela bica é diferente de quando estamos em contra-relógio, com uma meta que não pára só porque queremos – ou ignoramos. Encontrar aquele momento de equilíbrio leva tempo, não necessariamente o tempo que leva. A subtileza do tempo – a sua relatividade – tem intrinsecamente algo de extraordinário: um minuto leva mais tempo a passar se formos a olhar para o ponteiro, mas passa rápido se os nossos pensamentos estão além do seu batimento. Tal como a bica… Disfrutar de um bom café pode levar 10 minutos, mas não é disfrutado se temos noção dos 10 minutos a cumprir.

O curioso é que enquanto seres humanos obrigamo-nos a seguir as convenções que nós próprios definimos: as refeições são sempre à mesma hora, não necessariamente quando temos fome; até o abraço dos nossos filhos é invariavelmente rotineiro antes do relógio marcar as oito e meia, não porque é sentido. Convencionamos a vida e convencionamos o tempo com uma precisão inimaginável: ou não fosse um segundo correspondente a 9 mil milhões, 192 milhões, 631 mil e 770 vibrações da radiação de um átomo de Césio excitado. O que diriam os mestres relojoeiros nas montanhas do Jura, cansados já de terem de justificar que a beleza de um relógio mecânico está na busca da perfeição, não da precisão subjugante do quartzo.

Já Maxwell mostrou que a seta do tempo, a que vai sempre em frente e que sentimos passar, segue inevitavelmente para o caos, para a desordem. Isto dá um novo sentido ao termo “trabalho”, já que a energia despendida diariamente em organizar e produzir é maior que o saldo resultante - inclusive na conta bancária. Não me refiro ao eterno dilema do assalariado português, mas à invariabilidade da Física. É um paradoxo curioso, especialmente para um arquivista ou um bibliotecário: na verdade não estão a organizar um espaço, mas a acelerar a desorganização do universo.

O bater dos segundos no pulso e nas paredes daquela igreja antiga fazem-me recordar que tenho um transporte para apanhar e que o condutor e passageiros - claro está - têm igualmente um horário para cumprir, uma hora para chegar. Vidas tão distantes - a dos olhares estranhos - mas unidas em torno de uma regulamentação, de um preceito disfarçado de natural como as rodas dentadas, molas e escapes da máquina que batem os segundos no pulso, e do meu coração já acelerado. Se pela famigerada molécula ou pelo contra-relógio que me espera, não sei."

E é.. isto.

Temos poeta, mas a tua reflexão é sobre o tempo e não sobre o que leva as pessoas a comprar relógios, ou estarei enganado?

@c0mpu73r, eh pá, isto hj está tudo com a veia artística à solta. Mais um bom texto, este sobre a inexorabilidade do tempo.

@c0mpu73r, depois disso até fico com vergonha de dar a minha resposta , até porque alinha muito por aquilo que disse o @Duca749: eu compro relógios porque gosto.

E porque é que gosto? Não sei se consigo explicar, porque é sempre difícil explicar de forma racional porque é que gostamos de algo. Mas acho que consigo explicar do que é que gosto.

Gosto da pesquisa, gosto de aprender sobre diferentes peças e marcas, gosto de procurar e planear aquisições porque estas representam quase sempre, para mim, metas importantes, gosto de gerir a coleção e pensar a longo prazo nas peças que posso/quero ter, gosto de mexer nos relógios, contemplá-los e dar-lhes corda, gosto de os pôr e tirar do pulso, gosto de conversar com os outros sobre relógios, embora seja uma "doença" que não assiste a muita gente, gosto de os limpar e ordenar na caixa de forma diferente, gosto de os mostrar ao meu filho de 20 meses que gosta de mexer neles e já diz "ógio" mas tenho de evitar que os use como arma de arremesso, e gosto de os estrear e do cheiro de uma caixa novinha em folha.

Podia dizer que aprecio o trabalho de minúcia e precisão micromecânica que se encontra nos relógios, mas gosto imenso de alguns em que isso não se verifica, portanto, concluo que é menos importante.

Very good, @Nunogoncalves, isto é que vai por aqui uma série de gajos de dedo para escrita.

Excelente texto @c0mpu73r, parabéns, foste um poeta do tempo!  

@Nunogoncalves, boa! Tantas coisas em comum, mas tantas também diferentes, em particular a tua maior apetência pelos novos e a minha pelos antigos ! Eu esqueci de referir que uma coisa que me dá imenso gozo é lembrar-me, sempre que olho para o pulso, do mecanismo que lá está dentro, obra-prima de micromecânica, e pensar em todas as "rodinhas" a trabalhar sincronizadas pelo impulso de uns "cabelos"! E, claro, abrir os bichinhos e admirar a máquina! 

Compro relógios, especialmente vintage ...e mecânicos porque...porque...porque...
....porque me dá prazer alindá-los, olhá-los, torná-los algo pessoal, usá-los.....enfim, porque cada um é único...é meu!

compro porque gosto de relógios. dentro desse prazer, existe depois um outro. compro relógios que têm associada uma história qualquer "por trás".

um exemplo, o meu holy grail é o 5517 da Rolex. 
dentro do tal "gostar" de relógios, a minha praia são os divers, mais concretamente os military divers.
pelos relógios em si, e muito pelas histórias que trazem consigo. essa ideia do tool watch, do companheiro que passa por tudo ao nosso lado, atrai-me.

daí o 5517... como não o posso comprar, tenho os OVM da Steinhart (sim, tenho dois).

outro exemplo. os divers dos anos 60 a 80 da Tudor. fascinam-me. por isso tenho dois Tudor (um vintage e um Black Bay Black, 79230N) e comprei recentemente um Steinhart Marine Black. 

por tudo isto consumo avidamente tudo o que são sites e vídeos sobre este tema dos military divers.

Cheguei à conclusão que quem faz coleção de relógios cà em casa não sou eu , é a minha mulher , todos os dias vejo relógios , lícito em leilões quando me interessa e apanho relógios de senhora geralmente por muito bom preço , de vez em quando lá vem um , resultado , enquanto que eu vou fazendo uns "restauros" e é raro não vender o que acabei de restaurar , ela vai acumulando e usa-os todos , conforme a roupa ou disposição , usa tudo e faz muito bem , resultado daqui a nada precisamos de um segundo guarda jóias para ela enquanto que eu nunca passo da meia dúzia , como digo nunca fui colecionador , interessa-me apenas o hobby