Futuro da relojoaria numa foto

Em frente à Gulbenkian tem uma hamburgueria (mto boa por sinal), com esta publicidade que aponta ao futuro da relojoaria.... Não diria melhor, a relojoaria mecânica para sobreviver tem de passar (obrigatoriamente) por aqui : "tudo" feito em casa...

Mas isso é o caminho oposto a que apontam a globalização e a massificação! @VS, tu não queres que toda a malta que compra relógios Daniel Wellington, One e Invicta venham comprar as coisas que nós gostamos, queres? Eu não quero! Um pouquinho de exclusividade para nós, watchahoolics, também dá jeito! 

Isto é mais como o @VS queria que fosse e não tanto como vai ser , embora eu até ache que isto será parcialmente verdade.

A meu ver, as marcas mais prestigiadas e mais luxuosas vão, certamente, avançar pelo caminho da diferenciação, com mais movimentos in-house, mais desenhos próprios e mais recurso ao seu próprio catálogo histórico e peças identitárias. Não sei até que ponto esta onda de internalização chegará, mas, se o paradigma for a Rolex (como é em quase tudo no que toca a relojoaria), e as marcas chegarem até níveis como criar as suas próprias fundições, acho que há um segmento muito interessante da relojoaria (onde estão Omega, Breitlig, JLC, Cartier e afins) que, infelizmente, deixará, de vez, de ser acessível. A existência desta dinâmica já é visível desde há 2-3 anos, especialmente com o aumento de calibres in-house e correspondentes aumento de preços.

No outro lado do espetro, temos a tendência contrária, que é o surgimento de cada vez mais microbrands mais interessantes, com níveis de qualidade e design cada vez maiores, mas que dependem totalmente de fornecedores de tudo e mais alguma coisa. É o movimento "NH35"  e, provavelmente, será o grande responsável por trazer novos "consumidores de entrada" para o mercado. Aqui há muito pouco que seja in-house e isso não vai mudar. 

O que me leva a pensar que o futuro pode ser negro para marcas que não e enquadrem em nenhum dos segmentos mencionados acima, nomeadamente, as marcas que agora consideramos de segmento médio ou entry-level luxury. Estou a falar de para aí metade das empresas do grupo Swatch, tipo Tissot, Hamilton, Mido e Certina. Acho que, aqui sim, vai haver vítimas a médio-longo prazo.

@Nunogoncalves, quem despoletou esta corrida ao in-house foi a ETA ao tomar decisão, penso que em 2013, cortar com o fornecimento de movimentos a terceiros, tudo o que irá produzir será para consumo interno no grupo swatch (houve uma fase de transição, a partir de 2023 já não há ETA's para ninguém). Foi uma decisão que fez surgir a sellita em toda a força, fez explodir o mercado dos genéricos da Seiko (nhX) e obrigou alguns fabricantes à produção dos próprios calibres (por exemplo a Tudor, tag Heuer,...). No grupo swatch a Hamilton já está com, pelo menos um, movimento exclusivo próprio, a Longines tb caminha para isso, já tem calibres próprios anunciados.. basicamente as todas as marcas do grupo swatch irão ter um calibre próprio, passarão a ter identidade relojoeira (agora são máquinas genéricas, passarão a máquinas in-house).

Se abrires um catálogo de 2005 verás que , aí uns 90% das marcas suíças, tem um movimento ETA 28Xx, com o fecho da torneira passaram a usar selittas mas isso é apenas para tapar o buraco em tempos de transição, ninguém com 2 dedos de testa vai dar 4 mil euros por um relógio com um movimento clonada da ETA, é deitar dinheiro fora, péssimo investimento, as marcas têm e terão de se virar para a autenticidade, e como hj com a informatização se modela um movimento como quem desenha uma casa, essas marcas para sobreviver tem de se virar para o in-house. Sellitas é para microbrands de 300 euros, não para um segmento de entrada no mercado de luxo, os NHX são para o segmento dos 100euros e os in-house serão para gama acima dos "miles".

Acredito mesmo, in-house é o futuro, o lombo da peça. O resto fica com os ossos.

Haverá certamente consumidores que saberão desta realidade e ela pesará nas suas escolhas; no entanto, acredito que a grande maioria ainda comprará um relógio....«por gosta».

@Sansoni7 é a tirania do cliente "comprar pq gosta". Contra isso não há nem nunca haverá qualquer argumento possível. E ainda bem que assim é, comprar sem qualquer análise racional, comprar pq sim, pq gostamos e ponto! Haverá sempre mercado para isso, se calhar 90% dos clientes não fazem ideia (nem têm qualquer interesse em saber) o que é que a caixa tem dentro.